Eleições 2024 e as candidaturas afrorreligiosas
Ana Paula Mendes de Miranda, Andréia Soares Pinto, Pedro Jardim Fontenelle
Bastos da Motta, Rafael Oliveira Werneck Barroso, Ygor Fernandes Alves[1]
Introdução
A campanha eleitoral é um momento muito importante da vida política. Apesar da descrença de muitas pessoas, nota-se que os anos de eleição afetam a vida social. A eleição municipal é o “tempo da política”[2] que mais próximo está dos moradores das cidades.
Muitas vezes pensado como uma escolha individual, o voto não é apenas um número digitado nas urnas, cuja decisão é inspirada apenas em candidatos/as ou partidos políticos. O voto revela compromissos que se formam nos momentos anteriores às eleições. A decisão sobre em que votar é coletiva, envolve os eleitores, suas famílias e outros grupos nos quais estão inseridos, expressando valores e moralidades fundamentais para a definição do que seria uma “boa política”[3], como uma forma de respeito à vontade alheia, que tem a consciência de sua responsabilidade: cumprir seu dever, sem esquecer seu pertencimento à sua comunidade.
Análises[4] divulgadas recentemente têm destacado o crescimento de candidaturas que utilizam alguma identificação religiosa no registro no Tribunal Eleitoral. Chama atenção que os evangélicos são os que mais incorporaram ao nome registrado formas de se autoidentificar como pertencentes a esse diverso segmento religioso. Sabemos que essa relação entre religião e política não é novidade no cenário contemporâneo nacional. Muitas vezes associada a uma pauta mais conservadora, ou mesmo reacionária no plano dos costumes, os discursos religiosos têm sido usados para mobilizar eleitores, de diferentes matizes, seja para legitimar os interesses particulares de grupos religiosos, seja para desqualificar adversários políticos que se apropriam de agendas que se mostram pouco democráticas.
Uma novidade desta eleição é o crescimento de candidaturas no campo das tradições de matriz africana/afro-brasileira. Visando entender o perfil dessas pessoas o Ginga desenvolveu um estudo, quali-quanti, em contraste com os demais segmentos religiosos, já que toda crença religiosa é uma expressão de pertencimentos e memórias coletivas diferenciadas.
Lembrando Roger Bastide[5] e seus estudos sobre os cultos afro-brasileiros, julgamos relevante salientar como essas tradições se constituíram em diferentes regiões do Brasil, apesar de condições desfavoráveis instauradas pelo sistema colonial. Sua materialização sob diversas formas[6] não só possibilitaram a conexão entre o passado africano, em uma luta constante contra o esquecimento, que resultou na territorialização das crenças, como produziu novos sentidos de comunidade ao construir outros laços sociais (as famílias de santo), que vinculadas ao pai e/ou mãe de santo, compartilham o espaço do “terreiro”, como um espaço de reprodução de valores ancestrais e transnacionais.
Metodologia
Esta seção tem como objetivo descrever as etapas do levantamento de candidaturas com “identidade religiosa”[7] nas eleições de 2024, ou seja, nos referimos aos candidatos que registram seus nomes com algum tipo de referência religiosa para uso na urna eletrônica.
A fonte principal de busca foi a base de dados de candidaturas às eleições municipais de 2024, disponibilizada no portal do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Foram consultados como fontes complementares:
i. o banco de fotos de pessoas candidatas, também disponível no portal do TSE;
ii. as redes sociais das pessoas candidatas, aproveitando tanto as postagens recebidas por integrantes da equipe de pesquisa, quanto buscas intencionais com utilização de palavras-chave, listadas a seguir;
iii. os sites de notícias que apresentaram seções especiais de consulta a candidatos de todos os municípios brasileiros, com destaque para https://www.tribunapr.com.br/.
As buscas foram feitas de forma concomitante entre os dias 20 de agosto a 7 de setembro de 2024. As bases de dados do TSE utilizadas foram extraídas às 21 horas do dia 03 de setembro de 2024, em formato .csv para Excel.
Base de dados do TSE
Foram utilizadas formas de filtragem e qualificação das informações por palavras-chave que trouxessem resultados mais assertivos quanto à seleção. No entanto, os resultados dão conta de uma parte do universo de pessoas candidatas à vereança e à Prefeitura com perfil religioso, uma vez que religião não é uma informação que apareça disponível nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) disponíveis para download. Assim, não é possível afirmar que a seleção alcançou o universo total deste perfil de candidatos. Com isso queremos destacar que é possível que a religião tenha uma influência até maior na definição das escolhas.
Sites com fotos dos candidatos
O trabalho qualitativo foi feito para identificar as candidaturas que se apresentam por outros sinais diacríticos referentes ao pertencimento religioso além do nome. Buscou-se assim aprimorar a análise de variáveis que sinalizam um pertencimento religioso.
A identificação por foto foi feita para candidaturas nos municípios do Rio de Janeiro, através do site Tribuna PR (https://www.tribunapr.com.br/), que disponibiliza as informações sobre todos os candidatos às eleições de 2024.
A classificação foi feita por identificação de indumentárias usadas por religiosos de matriz africana (fios de conta; torços/pano de cabeça; baianas; roupas com estampas africanas).
Além da identificação por foto foram observados todos os nomes dos candidatos, para que também fosse possível perceber termos que não foram usados como palavras-chave na seleção pelo banco de dados. Nesta etapa do levantamento foram encontradas 21 pessoas candidatas pertencentes às tradições de matriz africana que não constavam na primeira filtragem da base de dados do TSE.
Após a identificação por foto, analisou-se também as redes sociais a fim de verificar outros elementos que revelassem o pertencimento religioso dos candidatos.
Redes sociais
As redes sociais Instagram e Facebook também foram utilizadas como tentativa de verificar as características dos candidatos nos casos em que havia dúvidas quanto à identificação religiosa da pessoa. Por exemplo, candidatos que se apresentam como “irmão” ou “irmã”, “mãe” ou “pai” podem ter ou não um pertencimento religioso. Este procedimento mais detalhado foi realizado para as candidaturas do estado do Rio de Janeiro, onde está sediado o Ginga-UFF.
A busca nas redes sociais foi feita a partir de informações como nome e cidade de candidatura, obtidos em sites de notícias e indicação de pesquisadores do Ginga e de pessoas de nossas relações pessoais. Nem todos os candidatos registraram suas redes no site do TSE e, em alguns casos, não foram encontradas referências dessas redes nas buscas direcionadas, o que impossibilitou a mesma verificação para a totalidade das candidaturas.
Palavras-chave utilizadas
Tradições de matriz africana
Se procurou por palavras que permitissem a associação dos nomes registrados nas urnas com religiões de matriz africana. Houve o cuidado em considerar as derivações do mesmo termo como as diferenças de gênero e formas diferenciadas de escrita. Ao final, se obteve o seguinte rol de termos utilizados:
a) Cargos religiosos:
Babalaô; Babalawô; Babalao; Babalawo; Babá; Babaloo; Babalorixá; Babalorisá; Babalorixa; Babalorisa; Iá; Yá; Ialorixá; Yalorixá; Ialorixa; Yalorixa; Macota; Makota; Mãe; Mae; Mameto; Mametu; Ogã; Ogan, Oga; Pai; Sacerdote; Sacerdotisa, Sacerdotiza; Tateto; Tatetu; Tata; Pejigan; Egbomy; Ebome; Egbomi; Doné; Doté; Done; Dote; Ekedi; Equede; Ekedji; Ekede; Ekedy.
b) Orixá, Inkissi e Vodun:
Exú; Exu; Esú; Iemanjá; Iyemanjá; Yemanjá; Yemaya; Iemoja; Yemoja; Ogum; Ogun, Ògún; Omolú; Omulu; Obaluaê; Osún; Oxalá; Oxala; Osalá; Oxóssi; Oxum; Xangô; Sangô; Oya; Oyá; Airá; Ayra; Ayrá; Aira; Ossain; Ossanha; Ossayn; Obá; Nanã; Nanan; Oxumarê; Oxumare; Logun Edé; Logun Ede; Oya; Oia; Oyá; Oiá; Oxagian; Osagian; Oxaguian; Osaguian; Ewá; Ewa; Lissá; Bará; Iansã; Odè; Otim; Xapanã; Bessen; Tobossi; Lebá; Karê; e Kare.
c) Outros termos relacionados:
Axé; Asé; Axe; Ase; Candomblé; Umbanda; Macumba; Orixá; Orisá, Orisa; Terreiro.
Os termos aplicados a cargos se referem às diferentes nações ou tradições de matriz africana. As diferentes grafias também têm a ver com as diferentes tradições, como por exemplo a palavra “Axé” e suas derivações e foram utilizadas na busca respeitando as diferenciações.
Com essa filtragem foi possível encontrar 284 candidaturas de religiosos de matriz africana no Brasil, distinguindo-se das 187 apontadas a partir do critério “mãe”, “pai” utilizado em outros levantamentos.
A diferença de valores é muito importante para se buscar compreender a presença de candidatos identificados como minorias religiosas, já que esse é um fator chave na mobilização política de suas identidades. É preciso sinalizar que essas candidaturas são relevantes para recolocar a discussão sobre as fronteiras entre a política e a religião, na medida em que suas identidades religiosas muitas vezes acionam a defesa dos direitos humanos como uma premissa fundante da ação política.
Apresentação dos dados
Dados Nacionais
Esta seção tem como objetivo descrever as etapas do levantamento de candidaturas com “identidade religiosa”[1] nas eleições de 2024, ou seja, nos referimos aos candidatos que registram seus nomes com algum tipo de referência religiosa para uso na urna eletrônica.
A fonte principal de busca foi a base de dados de candidaturas às eleições municipais de 2024, disponibilizada no portal do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Foram consultados como fontes complementares:
i. o banco de fotos de pessoas candidatas, também disponível no portal do TSE;
ii. as redes sociais das pessoas candidatas, aproveitando tanto as postagens recebidas por integrantes da equipe de pesquisa, quanto buscas intencionais com utilização de palavras-chave, listadas a seguir;
iii. os sites de notícias que apresentaram seções especiais de consulta a candidatos de todos os municípios brasileiros, com destaque para https://www.tribunapr.com.br/.
As buscas foram feitas de forma concomitante entre os dias 20 de agosto a 7 de setembro de 2024. As bases de dados do TSE utilizadas foram extraídas às 21 horas do dia 03 de setembro de 2024, em formato .csv para Excel.
Menos de 2% da base de dados sobre candidaturas às eleições de 2024 foi categorizada segundo o pertencimento religioso das pessoas candidatas (8.731 pessoas, 1,9%). Nesse universo de religiosos, foram identificadas 284 (3,3%) candidaturas de pessoas de religiões de matriz africana, 157 (1,8%) candidaturas de pessoas católicas e 8.290 (94,9%) candidaturas de pessoas evangélicas.
As 284 candidaturas de religiosos de matriz africana estão presentes em quase todos os estados brasileiros, sendo Amapá, Roraima, Acre e Mato Grosso do Sul, os estados em que não se observaram candidaturas de matriz africana.
Os estados com maiores percentuais de candidaturas de afrorreligiosos são: Bahia (50 candidaturas, 17,6%), São Paulo (48 candidaturas, 16,9%), Rio Grande do Sul (45 candidaturas, 15,8%), Rio de Janeiro (41 candidaturas, 14,4%).
Dados Nacionais
As informações a seguir contemplam 395 candidatos religiosos identificados no estado fluminense, dos quais 349 são de religião evangélica (88,4%), 41 religiosos de matriz africana (10,4%) e 5 católicos (1,3%).
As candidaturas de religiosos de matriz africana aconteceram em maior número na capital do estado (11 candidatos, 26,8%), seguida pelos municípios de Niterói (5 candidaturas, 12,2%), Duque de Caxias e São João de Meriti (4 candidaturas, 9,8% cada), Nova Iguaçu (3 candidaturas, 7,3%). Os municípios de Volta Redonda e São Gonçalo apresentaram 2 candidaturas cada. Com uma candidatura identificada estão os municípios de Angra dos Reis, Belford Roxo, Campos dos Goytacazes, Itaboraí, Laje do Muriaé, Macaé, Petrópolis, Quissamã, Saquarema e Seropédica.
Cargos
Das 395 candidaturas de religiosos no RJ, 379 candidaturas (95,9%) são para a Câmara Municipal, e é onde está agregada a maioria absoluta dos religiosos católicos (100%), evangélicos (95,7%) e de matriz africana (97,6%).
Há 14 candidaturas para vice-prefeito (3,5%), cujos candidatos religiosos são identificados como evangélicos e há duas candidaturas para prefeito (0,5%), sendo uma de religião de matriz africana e uma evangélica.
Grau de Instrução
A maior frequência de candidatos religiosos com ensino superior completo é de católicos, (40%), seguido pelos religiosos de matriz africana (26,8%) e evangélicos (17,8%).
As candidaturas de religiosos de matriz africana apresentam grau de instrução entre o ensino médio completo e o ensino superior completo em 82,9% dos casos. Para candidaturas evangélicas este percentual é de 65,9%, já nas candidaturas de católicos, todos têm ensino médio completo e superior completo.
Ocupação
Nota: As categorias “Membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares”, “Profissionais das ciências e das artes”, “Técnicos de nível médio”, Trabalhadores de serviços administrativos” e “Trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados” foram utilizadas para agregar ocupações, seguindo a classificação do Ministério do Trabalho (http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/informacoesGerais.jsf#12).
Sobre a ocupação dos candidatos, a única categoria que indica uma ocupação de cunho religioso é “Sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa”, que foi mais indicada entre pessoas candidatas de religiões de matriz africana (9,8%), quando do registro no TSE.
Já entre candidatos evangélicos se destaca a categoria trabalhadores do ramo de serviços (vendedores, comerciantes de mercados ou lojas) representa 12%, enquanto a categoria “Empresário” tem 9,2%.
A categoria “Outros” é uma opção de resposta dentro da base de dados do TSE e não há outros campos de preenchimento para se saber que tipo de ocupação estão agregadas nessa categoria.
Cor/raça
Sobre a ocupação dos candidatos, a única categoria que indica uma ocupação de cunho religioso é “Sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa”, que foi mais indicada entre pessoas candidatas de religiões de matriz africana (9,8%), quando do registro no TSE.
Já entre candidatos evangélicos se destaca a categoria trabalhadores do ramo de serviços (vendedores, comerciantes de mercados ou lojas) representa 12%, enquanto a categoria “Empresário” tem 9,2%.
A categoria “Outros” é uma opção de resposta dentro da base de dados do TSE e não há outros campos de preenchimento para se saber que tipo de ocupação estão agregadas nessa categoria.
Gênero
Sobre os candidatos religiosos nas eleições de 2024 com foco no gênero, se observa diferenças significativas entre os grupos religiosos.
Importante ressaltar que a informação sobre gênero na base do TSE apresenta como respostas possíveis as categorias “Feminino” e “Masculino”, não contemplando outras formas de autoidentificação de gênero.
Religiões de matriz africana: As candidaturas femininas dominam este segmento, representando 63,4% do total, enquanto a presença masculina é de 36,6%.
Evangélicos: Neste grupo, as candidaturas masculinas são predominantes, com 71,1%. As mulheres representam 28,9% das candidaturas.
Católicos: As cinco candidaturas católicas identificadas são masculinas.
A análise evidencia um forte contraste entre os diferentes grupos religiosos no que diz respeito à distribuição de gênero nas candidaturas. Enquanto as religiões de matriz africana mostram uma predominância feminina, os segmentos cristãos têm uma presença majoritária masculina.
Partidos
Os partidos que mais agregam candidaturas de pessoas com identificação religiosa no estado do Rio de Janeiro são: REPUBLICANOS (10,1%), PL (7,6%), PP (6,8%), MDB e PRD (6,1% cada), UNIÃO BRASIL (5,3%), PDT e PSB (5,1% cada). Juntos, somam 52,2% dessas candidaturas identificadas.
No entanto, para observar as escolhas partidárias dos religiosos que se candidataram a cargos políticos nessas eleições municipais é preciso considerar os grupos religiosos em si.
Há uma maior capilaridade dos candidatos evangélicos entre os partidos políticos, independentemente do espectro ideológico, com exceção do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Diferente dos afrorreligiosos, que apresentam maior proximidade com o PSOL (29,3%) e concentram as candidaturas em menor número de partidos, como: PSB (17,1%), PDT (14,6%) e PT (7,3%).
Considerações finais
Este estudo teve como foco principal as candidaturas de afrorreligiosos ao pleito municipal de 2024, a partir do desenvolvimento de uma análise quali-quanti.
Instigado pelas análises que destacam o crescimento de candidaturas que utilizam alguma identificação religiosa no registro no Tribunal Eleitoral, procurou-se observar a composição do perfil de afrorreligiosos no universo da política eleitoral, tendo como foco o estado do Rio de Janeiro.
A relevância de se observar a influência da religião na política, e desta na sociedade, justifica o esforço de se complementar os dados disponibilizados pelo TSE com informações sobre religião ou pertencimento religioso e proporcionar ferramentas de análise que ajudem a entender esse aspecto do processo político e dos processos de mobilização política ou ativismo político de grupos específicos.
Os resultados corroboram o que outras análises mostraram sobre o fato de evangélicos serem os que mais incorporaram ao nome registrado formas de se autoidentificar como pertencentes a esse diverso segmento religioso. No entanto, o dado absoluto dá conta apenas de uma parte desse contexto.
Uma novidade desta eleição é o crescimento de candidaturas no campo das tradições de matriz africana/afro-brasileira. O perfil dos afrorreligiosos que se candidataram às eleições municipais de 2024 apresenta candidaturas de pessoas negras (83%) e instruídas com ensino médio completo a superior completo (82,9%). Entre os candidatos cristãos, pretos, pardos e brancos têm percentuais próximos, enquanto o grau de instrução se concentra entre ensino médio completo ou menos (63,3%).
Destaque deve ser dado ao protagonismo de candidaturas de mulheres (63,4%) entre os afrorreligiosos. Para candidatos evangélicos, os homens predominam no cenário, com 71,1%.
As informações sobre ocupação ajudaram a identificar também lideranças religiosas que lançam mãos do ativismo através de candidaturas políticas. Nota-se que 20% dos afrorreligiosos declararam como ocupação serem sacerdotes/sacerdotisas ou membros de ordem ou seita religiosa. Um dado que difere entre os evangélicos (4,3%).
Na análise intragrupos, observando as filiações partidárias, os afrorreligiosos se aproximam de partidos de espectros políticos de perfil progressista[7], como PSOL (29,3), PSB (17,1%) e PDT (14,6%). Os evangélicos possuem uma capilaridade maior entre todos os partidos, com exceção do PSOL, e nota-se uma tendência de candidaturas registradas em partidos de espectro político mais conservador, como o REPUBLICANOS (10,6%) e o PL (8,6%).
É possível dizer, assim, que há entre as candidaturas de religiosos um grupo identificado como de matriz africana, com forte presença feminina, de alto nível de instrução, associada a uma pauta por direitos civis no Rio de Janeiro, o que está diretamente relacionado aos efeitos das mobilizações provocadas pelo crescimento de violações de direitos dos povos e comunidades tradicionais de terreiro que crescem na região há décadas[8].
Referências
[1] A pesquisa contou com a colaboração da pesquisadora Alexsandra Ferreira Aquino no processo de elaboração do estudo.
[2] PALMEIRA, Moacir, GOLDMAN, Marcio (orgs.). Antropologia, Voto e representação política. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1996.
[3] SCHWARZKOPF, Alejandro Lezcano. Eleições municipais em Santa Maria: um olhar antropológico. Revista Sociais e Humanas (RSH), Santa Maria, v. 19, n. 2, p. 23-32, 2006.
[4] Ver https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2024-08/candidaturas-com-identidade-religiosa-crescem-225-em-24-anos, acesso em 21/08/2024.
[5] BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo, Edusp, 1971.
[6] Babaçuê; Batuque; Cabula; Candomblé Jeje; Candomblé Ketu; Candomblé Angola; Candomblé de Caboclo; Catimbó; Culto aos egunguns; Encantaria; Jurema; Omolocô; Pajelança; Quimbanda; Tambor de Mina; Terecô; Toré; Umbanda; Xambá; Xangô.
[7] Ver https://religiaoepoder.org.br/artigo/religiao-e-eleicoes-as-candidaturas-com-identidade-religiosa-para-a-camara-federal-em-2022/, acesso em 21/08/2024.
[8] Entendidos como grupos que defendem a transformação social por meio da ampliação dos direitos civis, reconhecimento de identidades e inclusão social, de modo distinto dos chamados conservadores.
[9] Ver MIRANDA, Ana Paula Mendes de. A “política dos terreiros” contra o racismo religioso e as políticas “cristofascistas”. Debates do NER, v. 40, n. 21, p. 17–54, 2021.